segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Quando o amor adoece


E o amor nasceu...
O riso fácil encontrava-se sempre à boca, as mãos estremeciam e gelavam pelo simples mencionar do nome amado,  a respiração ofegante era companheira em todos os encontros, os sonhos sempre compartilhados, se faziam azul e rosa, os olhos espargiam centelhas de alegria e vigor, a alma experimentava de tanta harmonia que se sentia flutuar...
Mas o tempo, traiçoeiro e sutil, transformou tudo num  ritmo constante e implacável, quase imperceptível. O tempo que trouxe segurança foi o mesmo que trouxe acomodação. O tempo que fundiu as almas foi o mesmo  que destruiu a individualidade. O tempo  que alimentou o amor foi o mesmo que matou a paixão. O tempo que trouxe confiança foi  o mesmo que fomentou o orgulho. O tempo que inspirou lembranças foi o mesmo que lançou a névoa do esquecimento.

E o amor adoeceu...

Quem era mais doce continuou amando, quem era mais torpe continuou aprisionando. Quem era mais inocente continuou confiando, quem era mais malicioso seguiu enganando. Quem era mais nobre continuou se dedicando, quem era mais dominador seguiu manipulando. Quem era da paz vendeu sua liberdade para evitar a guerra, quem era da guerra aprisionou com falsas promessas de paz.
Quem era prisioneiro, viu o amor se esvair em agonia lenta e mortal, deixando  um vácuo onde se alojou o desejo indomável por liberdade e vida... E quem estava por sobre o seu pedestal de orgulho e empáfia, tanto ocupava-se em exaltar o seu patético poder, que nem se apercebeu ou não acreditou quando o domínio se desfez, quando o amor, já morto, não mais respondeu aos seus chamados, quando o seu grito não mais provocou temor, nem imobilizou, quando os seus apelos emocionais não convenceram mais o coração, nem os olhos que não eram mais seus, sequer lhe enxergavam.

E o amor morreu...

A música que aquele coração tocava já não era a mesma que o outro podia dançar. As palavras que aquela boca dizia já não eram aquelas que o outro queria escutar. Os passos daqueles pés já não eram os mesmos que o outro podia alcançar. O fogo que antes alimentava a paixão, agora incineravam os restos mortais daquele amor que morrera de fome e exaustão.

Mas, a morte do amor doente foi a alforria de um coração que assim conheceu as cores, os sabores e as músicas da vida e, como se fosse pela primeira vez, olhou para si e se viu, se enxergou, se reconheceu, se amou e finalmente renasceu em si.

Nenhum comentário:

Postar um comentário